
Educação em alerta: Brasil estagnado no alfabetismo e Eunápolis vive crise prolongada nas escolas
A mais recente edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada nesta segunda-feira (5), escancara uma realidade alarmante: três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais, ou seja, possuem um domínio extremamente limitado da leitura, escrita e matemática, incapazes de interpretar frases simples ou identificar preços e números de telefone. Esse índice de 29% se mantém estagnado desde 2018, revelando um preocupante imobilismo nas políticas públicas voltadas à alfabetização plena da população. Em Eunápolis, o cenário local contribui para esse quadro: mesmo em maio, a rede municipal ainda não funciona com carga horária completa nas escolas, o que compromete diretamente a qualidade do ensino oferecido.
Ainda mais inquietante é a situação entre os jovens de 15 a 29 anos, onde o índice de analfabetismo funcional aumentou de 14% em 2018 para 16% em 2024. Especialistas apontam a pandemia como um dos fatores responsáveis por esse retrocesso, já que o fechamento das escolas durante um longo período afetou drasticamente a aprendizagem de milhões de estudantes, especialmente os mais vulneráveis. A lacuna educacional provocada nesse período ainda não foi superada — e reflete diretamente nos resultados atuais.
Em Eunápolis, a crise na educação não é novidade. Em 2022, o município enfrentou uma greve de oito meses na rede municipal, paralisando o ensino por quase todo o ano letivo. Dois anos depois, o sistema ainda não se recuperou completamente: há escolas sem atendimento pleno e alunos prejudicados por um ensino intermitente e instável. Essa instabilidade compromete o aprendizado básico, especialmente nos anos iniciais, fundamentais para o desenvolvimento da leitura e da escrita.
Além dos dados gerais, o Inaf também expõe as desigualdades raciais e sociais presentes no acesso à educação no Brasil. Entre os negros, 30% são considerados analfabetos funcionais, frente a 28% dos brancos. A situação é ainda mais grave entre indígenas e amarelos, onde esse índice chega a 47%. Esses números reforçam a necessidade de políticas públicas que enfrentem, ao mesmo tempo, as falhas educacionais e as desigualdades históricas da sociedade brasileira.
O analfabetismo funcional é uma barreira que limita não apenas o desenvolvimento pessoal, mas também a inclusão social e o acesso a direitos básicos. Como destaca a coordenadora do Observatório da Fundação Itaú, Esmeralda Macana, é fundamental acelerar o ritmo e a qualidade das políticas públicas na educação, principalmente na educação básica. O Brasil, e especialmente cidades como Eunápolis, precisam garantir que crianças, adolescentes e jovens tenham acesso a um ensino eficaz, que prepare cada cidadão para enfrentar os desafios do presente e do futuro.
Com informações da Agência Brasil/ Foto: Geovana Albuquerque